Ela é parecida com alguém que nunca cheguei a conhecer pessoalmente - alguém que sei que terá sido um tanto alto e um tanto magro, tímido e confiante na dose sedutora de se ser assim, alguém que terá estado com um cigarro numa mão de dedos infindáveis e que teria tido uma alma catártica na outra com forma e toque semelhantes.
Fecho os olhos e revejo o momento em que a Catarina puxara a meia em direção ao joelho de uma perna, a esquerda, infindável ela também (a perna, a Catarina, ou ambas - é escolher).
Não sei se terão sido os gestos, ou o conteúdo de todas as conversas, mas o nome Al Berto assombrou-me há minutos e percebi quem era ela na minha memória. Tudo fez sentido, então, e foi dado um corpo à magia do ziguezaguear dos seus óculos pendurados no pescoço e à sua boca com ânimo para, surpreendentemente, me desgraçar o meio das pernas só com a leveza do seu sarcasmo.
Há algo de extremamente romântico e negro no nosso ar: enchemo-nos de rodeios relativamente ao pedantismo da primavera, enquanto a assumimos e abraçamos; bebemos cerveja e comemos tremoços com casca, enquanto falamos das esquinas difíceis das emoções humanas e brincamos com a tensão que vai aumentando nitidamente o número e a intensidade de assuntos a serem falados futuramente.
Aprendemos, com a vida, a ter a forma do fumo e a sermos solitárias por aí e o nosso fado não nos importa assim tanto: momentaneamente, experimentamos ser sozinhas juntas - até quando, nenhuma de nós quer saber, porque aprendemos uma valsa específica que a solidão não consegue acompanhar (a menos que paremos de dançar), sabemos que este toque de mãos será de chofre e estamos bem.
Não daremos pano para mangas aos despautérios das emoções, mas a pergunta que paira é: poderemos ser nós mais solução que problema?