24.3.10

retirado do ventre

quando diminui o ar frio que nos fere a vista e os mamilos, o corpo que tremia deixa-se estar quieto e mudo. assim, no berço da tranquilidade, perdemo-nos na nossa humanidade e dormimos encostados à janela, recebendo o Sol na nossa cabeça com agrado.

/ ouve-me agora:
és grande e tens o peso do algodão na consciência. és murro na mesa da taberna, martelada no julgamento, bater do pé quando o mundo se deixa corromper. palavras certas e graves em voz alta e a sabedoria na melodia do seu som. travo a vinho tinto carrascão na boca e olhos que são do mundo. certeza no gesto e segurança no abraço; és o espelho das sombras, porque renunciaste à luz, a todas as luzes. és escondido, mas todos te vêem gigante e audaz. és nevoeiro e orvalho matinal nos olhos e consegue-se beber da tua falta de nitidez - não se sabe quem és verdadeiramente, somente existes em muitas coisas e vais embora nos dias de Sol. /

 o ar frio regressa e eu perco-me do Sol e só sei que abro os olhos e deixo de te ver. e o hábito não se deixa vestir.

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