15.5.14

Ler o Cosmos I

Não há nada mais transcendente de que nos apercebermos do nosso lugar no Universo. Por mais que essa percepção não seja clara e ainda necessite de inúmeros esclarecimentos, ela permite-nos, pelo menos, chegar à conclusão do quão humilde temos de ser para aceitarmos a condição humana como um privilégio para a compreensão do mundo e do outro; que o ser humano, no seu reflexo e nas suas diferenças, na sua complexidade e finitude, não é mais que ele próprio e que cada um deverá ser o melhor que conseguir. A ideia é tão libertadora, como fatal. O pensamento e a reflexão são mais que a vaidade do corpo e do conhecimento, mas não a excluem. A forma como o mundo humano se conduziu até à sua organização actual, como ele soma e segue gerações que têm ao seu dispor diferentes instrumentos, pessoas e aspirações e como se conclui a si próprio é um alerta à importância da razão. A experiência da  vida humana, quando se tenta ver para além do que facilmente se obtém de forma superficial, torna-se, em simultâneo, pequena e titânica - aí, pode escolher-se entre uma vida repleta de automatismo, ou veiculada pela reflexão e, por vezes, como consequência, pelo desapego. O homem impõe o automatismo a si próprio, quando não o escolhe, quando ignora o pensamento e permanece assente na vontade: não conduz a sua vida, é conduzido pelo contexto em que já se encontra mergulhado, sem se aperceber que pode nadar até à superfície, onde terá luz, embora nunca suficiente, para ver um pouco mais, um pouco melhor.

A experiência magnífica que é ler o Cosmos, de Carl Sagan

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