2.11.16

amarras - parte 2 de 3

Quando há vários caminhos,
Mas em todo o lado somos caminho,
E fugimos de dois, para escolhermos outros três
E destruímos a beleza de escolher
E mentimos sempre uma mentira entre os dentes,
Talvez a tentar convencer o espelho
De que são estas as regras da vida
E que elas é que estão erradas;

Quando o tempo para devaneios escasseia
E a lembrança dos caminhos não escolhidos nos apavora,
Batem, gritantes, como os ponteiros dos segundos,
Nas cabeças e nos sonhos,
As mentiras piedosas das longas noites,
E vislumbramos, ao fundo, a luz esmagadora de um comboio 
Que corre lançado contra nós -
É a luz sem solução,
Condicionada pelo engano,
Pela voluptuosa falta de nitidez
Que nunca nos deixa espaço de sobra para onde possamos fugir;
Esta é a luz que mata sempre que nela se toca.

No entanto, corre-se na mesma, não é assim?
E corre-se com o corpo, com a intuição,
Por muito tempo, onde não se distinguem as cores.

Não acontecerá nada, na verdade.
Em nenhum sítio, parte nenhuma,
Não há caminho que nos leve,
Nem Diabo que nos carregue,
Ou boca que nos engula.

E dos três caminhos não nos restarão senão paisagens penduradas,
E, por toda a casa, fotografias;
Dos outros dois haverá só lembranças, na penumbra,
Daquilo que foi
E do que poderia ter sido.

E será lá,
Durante o sono,
Durante a noite,
Durante o sonho,
Que queimaremos réstias de luz,
À luz das velas,
E brincaremos com a cera quente
Só para podermos voltar a sentir.

Sem comentários:

Enviar um comentário