2.11.09

presente, nada mais que o presente

"Deitei um olhar ansioso à minha roda: presente, nada mais que o presente. Móveis leves e sólidos, encrostados no seu presente, uma mesa, uma cama, um guarda-fato - e eu próprio. Revelava-se a verdadeira natureza do presente: era o que existe, e tudo o que não era presente não existia. O passado não existia. De modo nenhum. Nem as coisas, nem sequer no meu pensamento. Decerto, havia muito tempo que eu tinha compreendido que o meu me tinha escapado. Mas julgava, até então, que se tinha simplesmente retirado do meu alcance. Para mim o passado era apenas uma entrada na reforma: era outra maneira de existir, um estado de férias e de inacção; cada acontecimento, quando findara o seu papel, se arrumava atinadamente, por si proprio, numa caixa, e se tornava acontecimento honorário: tal é a dificuldade que se tem em imaginar o nada. Agora compreendia: as coisas são inteiramente o que parecem - e por trás delas... não há nada."

Jean-Paul Sartre, em A Náusea

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