19.5.10

que bom que é sabê-lo

todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada. ficaram só os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte. os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas. sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, em cada hora, não irei negar isso. não irei negar nunca que te amei. nem mesmo quando estiver deitado, nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo antes de a foder.

josé luís peixoto

2 comentários:

  1. Falar do trigo e não dizer o joio. Percorrer
    em voo raso os campos
    sem pousar
    os pés no chão. Abrir
    um fruto e sentir
    no ar o cheiro
    a alfazema. Pequenas coisas,
    dirás, que nada
    significam perante
    esta outra, maior: dizer
    o indizível. Ou esta:
    entrar sem bússola
    na floresta e não perder
    o rumo. Ou essa outra, maior
    que todas e cujo
    nome por precaução
    omites. Que é preciso,
    às vezes,
    não acordar o silêncio.

    Albano Martins, Escrito a vermelho
    *

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